Algum tempo atrás presenciei uma conversa em que um membro de igreja evangélica se mostrava surpreso com a informação de que pastor tira férias. Para ele isso era inconcebível… afinal, como um pastor pode deixar de ganhar almas, dar uma pausa nessa magnífica missão? Na sua compreensão havia, logicamente, algumas distorções: a de que o pastor é quem ganha almas (fruto do papel do púlpito no movimento puritano), de que pastor não se cansa até mesmo porque não trabalha (segundo alguns, numa clara confusão de ausência de uma agenda definida com as demandas do ministério.
Fato é que pastores se cansam. Jesus se cansou. Não foram poucas as vezes que o Mestre se retirou para um monte para orar e descansar da demanda das multidões.
Mas o cansaço pastoral é bom sinal? Eu diria que sim, caso seja observado como um sinalizador para uma parada. Isso porque uma igreja que tem um pastor que se cansa pode ter consigo o privilégio de ter alguém que é humano e que tem realmente um coração pastoral. Isto posto, gostaria de sugerir uma pequena lista (que não se esgota em si mesma) de fatores que podem levar ao cansaço pastoral:
1. Peso institucional: há certas comunidades que possuem tanto “script” a ser cumprido que as relações perdem sua naturalidade e se tornam artificializadas. Todos ali cumprindo seus papéis, o que termina fomentando a criação de máscaras. A falta de autenticidade gera perda de combustível emocional, cansando os que ali estão.
2. O excesso de demanda também cansa. Há comunidades que absorvem demais o pastor. Ou porque são imaturas demais para poder lidar com suas questões, trazendo ao líder tudo que acontece; ou porque o pastor é tão bom que dá vontade de ficar perto dele o tempo todo. Não há “Moisés” que consiga se manter com saúde emocional diante de uma demanda que ultrapassa os limites do que é razoável. Igrejas imaturas não caminham sozinhas.
3. A crítica desgasta, especialmente aquela que é fruto de incompreensão. Pastores que são “julgados” numa determinada situação, quando os membros não sabem da história e passam a desconsiderar a trajetória daquele líder que diz exatamente o contrário do que se passou a pensar e a verbalizar sobre ele. Essa incompreensão desgasta muito e acaba por drenar a energia emocional do pastor.
4. Perseguição. Há alguns membros que elencam o pastor como alvo de suas frustrações. Outros, por motivações infernais, passam a perseguir o líder. Como ao pastor não cabe retribuir na mesma moeda, a perseguição o conduz para o enfado e, não raras vezes, à precipitação do tempo de ministério pastoral numa localidade.
5. Desgaste familiar. A família pastoral é composta de gente. Por esta razão, sofre por vezes com conflitos. Nem o pastor, nem ninguém mais, tem família perfeita; portanto, a igreja precisa ter certa dose de compreensão e apoio para com a família pastoral, especialmente com os filhos. Se o pastor e a esposa estavam cônscios de sua missão como casal, ou mesmo da missão do marido, os filhos por sua vez não foram chamados a opinar. Por vezes o cansaço do pastor advém do seu abatimento ao ver a insana expectativa que é colocada sobre seus filhos, como se “pastorzinhos” fossem.
6. Falta de descanso programado. Há pastores que não respeitam sua folga semanal, necessária para recarregar baterias. Há muitos irmãos que também não respeitam essa folga, esperando um problema agudizar, explodir, para então chamar o pastor. E como explodem situações nos dias de folga e feriado! Perceba: há coisas que acontecem de modo inesperado, como uma perda. No entanto, há outras que podiam ser tratadas antes, evitando a explosão. O fato que ao ultrapassar os limites do descanso, princípio estabelecido por Deus na Criação, e fazendo-o de modo sistemático, o cansaço se acumula minando a saúde pastoral.
7. A traição da liderança é outro fator de desgaste. É um componente ético-emocional. Pessoas que lhe acompanham ou que você acompanha e que de repente rompem com sua liderança. Pessoas que lhe acompanham ou que você acompanha sobre as quais se descobre posteriormente (daí a estupefação e o cansaço dela decorrente) que elas já estavam rompidas com todo projeto de liderança cristã, de santidade e coerência que o Reino requer. Essa traição é doída, e por ser assim enrijece o coração. O problema é que não há ministério possível com coração endurecido. Essa é uma área de extremo enfado… e deserto.
8. A imaturidade dos membros que criam tensões desnecessárias. Pequenos choques sem reconciliações ou alguém com uma palavra de sabedoria para contornar essas rusgas acabam respingando no pastor. Ao fazê-lo, há uma perda de energia emocional, a qual vai sendo sugada a conta-gotas. Contudo, o fato de sair aos poucos não desmerece pra onde ela aponta: o esvaziamento do tanque emocional.
9. Falta de retorno da Igreja. Uma igreja que não responde, nem “sim”, nem “não”, às demandas, provocações e ideias pastorais, pode trazer um profundo desgosto e questionamento de chamado ao pastor. É quando o ralo está dentro do coração pastoral, escoando toda a energia emocional ali presente. Essa frustração ministerial ao lidar com “walkingdeads” eclesiásticos desgasta o coração do pastor.
10. Uma igreja essencialmente carnal. Lidar com uma igreja que busca o lenitivo espiritual e pastoral, ao mesmo tempo que se fere com o pecado, fere o pastor. Embora ele esteja ali também para escutar os membros mediante aconselhamento pastoral, é muito angustiante para o pastor ver suas ovelhas se machucando nos arames farpados do pecado. Ouvir como algumas, embora com a vida (ou seria sobrevida?) preservadas, tiveram pedaços inteiros arrancados pelas garras de lobos, ursos e leões, dói. Faz o coração chorar! Por fim, cansa ver tanta gente cansada e que insiste nesse projeto de vida que na verdade é um convite à morte diária.
Ao propor esta lista, não quero dizer que não existam outros fatores que fomentem o cansaço pastoral. Nem tampouco quero dizer que ministério se faz sem se cansar. Aliás, tendo a pensar que pastores que não se cansam são aproveitadores, falsos profetas, sugadores da gordura alheia. Entretanto, ao expor e propor essa lista, convido-lhe:
a) a orar e a cuidar do seu pastor. Cabe aos membros da igreja este cuidado com o pastor. Está percebendo seu pastor mais irritadiço, mais cansado, menos atento? Sugere a ele e à liderança um tempo de descanso… se a igreja puder, envie o pastor e sua esposa para uma pousada. Investir no cuidado e na família pastoral beneficia a própria igreja.
b) aos queridos colegas, sugiro que se leiam, se percebam. Uma vez cansados, é melhor parar um pouco, para depois poder terminar a corrida. Em meio de maratona, exausto, não é hora de se dar um “Sprint”. Pare, respire um pouco, volte andando e se sentir condições, corra novamente.
Um desavisado poderia dizer nesse momento: mas eu não gosto e nem corro maratonas. Para você eu responderia: você é uma pessoa excelente e útil em muitas coisas; contudo, muito possivelmente não sirva para o ministério pastoral.
Aos pastores que exercem o ministério com dedicação, comprometimento e que por isso estão cansados, minha admiração e oração para que vocês sejam renovados. Há muito mais à nossa frente. Que Deus nos abençoe.
Pr. Sérgio Dusilek
Presidente da CBC
Muito bom e verdadeiro o texto, mas acrescentaria ieereais ou altas expectativa do proprio pastor, que se frustrando acaba por se cansar tambem. Os pastores alem de descanso devem ser aconselhados ou apoiados com um pastor mais idoso e experimentado no ministério, seria prudente e sábio. Acabam por ficar isolados.
Caro pastor,
De fato, são muitos fatores que desafiam o ministério pastoral e se fossemos elencar todos seria também cansativo, rsrs. Mas, o nobre colega fez ponderações importantesne mui interessantes no que diz respeito as atribuições de um ministro evangélico. Fico feliz com sua colaboração, que enche os corações de muita esperança aos que acessarem o artigo se deparem com um espelho de realidades em que se vive um ministro. Lembrando aqui que não o conheço pessoalmente, mas tive a oportunidade de conhece o teu finado pai. E, vejo que experiência como filho de pastor tu já tem, rsrs. Abraços!
Pastor Sérgio,
Maravilhz esse artigo. Concirdo pjenamente. Ja sofri muita ingratidão como liderança em igreja , ja fuquei ate hidputaluzada por isso. Mas gracas a Deus sirvo ao meu Senhor e Ele tem me orientado com sabedoria diantes de atitudes ingratas de membros de igreja.
Sei que preciso aprender a dizer “NAO” algumas vezes , para evitar a sobrecarga e nao adoecer.
Obrigada por este Artigo tão especial. Que Deus lhe abençoe sempre.
Pastorres precisam de discipulado, modelo de Jesus e os doze homens que Ele recrutou e o modelo Barnabé/Saulo/Paulo e Paulo/ Timóteo/Tito/Silas/Aquila e Priscila, etc. O problema aqui é que nós pastores não cremos que precisamo de um discipulado no ministerio e nas questões de ordem familiar e como lidar com as questões muito bem colocadas acima pelo Pr Sergio. Discipulado biblico gera “Companheiros de Lutas” como Paulo afirma em Fp 2.25. Foi assim comigo, fui discipulado a partir do meu 5º ano de ministerio pastoral, fui e estou sendo salvo cada dia e venho fazendo o mesmo com outros colegas, que experiencia fantastica.
Muito bom, foi um alerta orientador
E quando a Igreja cansa do seu Pastor, o que fazer se o Pastor é o único que não percebe?
Bom artigo. Vimos muito adoecimento de pastores em anos anteriores. Prá nosso pastor, levantamos também a questão de ter um acompanhamento psicológico, bem como achamos importante que possa ter outros pastores de confiança para compartilhar suas experiências.
Querido pr. Sérgio
A Paz do Senhor Jesus Cristo
Deus continue abençoando sua vida
Muito obrigado por este tema tão importante
É exatamente assim que muitas vezes nos sentimos
Somente Deus para renovar as forças